A população do Brasil está em processo de envelhecimento. Até 2040, mais da metade dos brasileiros terá acima de 45 anos, estima o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A mudança na pirâmide etária do país, ao contrário do que pode parecer, é considerada uma conquista. Se, no passado, a expectativa de vida não ultrapassava os 30 anos, hoje, ela é acima dos 70 para homens e mulheres. O envelhecimento nesse contexto deve estar aliado à conscientização sobre os cuidados com o próprio organismo para a garantia de um futuro saudável.
Um dos maiores medos quando se trata de envelhecimento no país é a dependência física de alguém. De fato, a independência é um fator preponderante para o envelhecimento saudável, explica a doutoranda em Saúde Pública da UFMG, integrante do Grupo de Estudos e Práticas sobre Envelhecimento, Nutrição e Saúde da UFV e uma das autoras do artigo “Promoção da Alimentação Saudável entre idosos: experiência extensionista na cidade de Viçosa”, Luciene Almeida. “O envelhecimento saudável é aquele em que o idoso tem a sua funcionalidade mantida, ou seja, em que é capaz de realizar suas atividades diárias de forma independente e autônoma”, diz.
O corpo humano começa a envelhecer por volta dos 30 anos, quando inicia a perda de massa muscular, limitando a força e comprometendo a mobilidade. É justamente essa redução na resistência muscular que pode comprometer a independência funcional na terceira idade. Por isso, o cuidado e o processo de conscientização devem começar ainda na juventude. “Envelhecer com saúde é ter saúde agora. Cultivar bons hábitos de vida e ter uma rotina saudável deve ser o objetivo dos jovens para um bom envelhecimento”, explica a médica-clínica-geral e especialista em cuidados paliativos Elisa Marquezini.

Estabelecer uma rotina saudável inclui cuidar da alimentação, praticar exercícios físicos e desfrutar de momentos de lazer e relaxamento. Comer bem significa ter uma dieta baseada no consumo de frutas, verduras, legumes, hortaliças e carboidratos complexos, mas também é reduzir a ingestão de gorduras. Igualmente, requer o consumo de pelo menos dois litros de água por dia. O sedentarismo, por sua vez, está ligado a 30% das mortes pelas chamadas doenças crônicas não transmissíveis, como a hipertensão, o câncer e o diabetes. Vários estudos mostram que as mudanças no estilo de vida desde cedo podem prevenir o avanço dessas doenças, responsáveis por 72% das mortes no país.
A alimentação ainda contribui para o bem-estar por proporcionar momentos de convívio em sociedade. As refeições devem ser encaradas como oportunidades de conversa e criação de vínculos, afastando a solidão, muitas vezes, proporcionada pela viuvez. “O segredo está em cultivar as amizades, balancear tempo de trabalho e lazer, cuidar da alma, sentir-se em equilíbrio. Essas atitudes ajudam a reduzir o estresse, que aumenta os níveis do hormônio cortisol no organismo, diminui a imunidade e aumenta a pressão arterial e a glicemia (concentração de glicose no sangue), assim, colocando a longevidade em risco”, afirma Elisa Marquezini.
Equilíbrio, entretanto, não significa a ausência das doenças crônicas. É cada vez mais raro encontrar idosos que não tenham pelo menos uma delas. Esse conceito está mais ligado ao planejamento prévio e à compreensão de que é necessário manter as doenças controladas em caso de já conviver com elas. Hoje, os idosos conseguem viver, por exemplo, com duas, três e até mais doenças crônicas de forma simultânea e há indivíduos vivendo há mais de quatro décadas com essas características.


















