Depois de anos na faculdade, o profissional da saúde vai para o mercado cheio de sonhos. O mais comum deles é abrir o próprio consultório. Porém, é neste momento que surge a dúvida: dividir o consultório ou abri-lo sozinho? Na verdade, não existe resposta certa ou errada, pois ela varia de acordo com o perfil e situação financeira de cada um.
No geral, dividir é a opção mais vantajosa. “Essa é uma tendência muito forte de uns tempos para cá, principalmente diante do agravamento da situação econômica e aumento dos custos de manutenção”, diz Cláudio Tosta, professor da IBE-FGV no MBA em Executivo em Saúde. Acontece que raramente um profissional trabalhará em apenas uma clínica. Com isso, o consultório próprio acaba ficando vazio em parte do tempo – ou seja, paga-se por algo que não está sendo usado. Assim, em vez de deixar as salas ociosas, muitos profissionais estão optando por sublocá-las para colegas.
Por isso, uma das maiores vantagens de compartilhar um consultório é poder dividir os gastos, como aluguel, luz, materiais e pagamento de funcionários. Para Tosta, é importante contratar um especialista em finanças para descobrir quais são os custos que você realmente tem e, a partir deles, decidir quanto cobrará do(s) parceiro(s) para que eles utilizem seu espaço.
Outra vantagem é poder reunir diversos profissionais, criando uma espécie de sinergia – onde as especialidades se complementam e ajudam uma a outra, como em um consultório com otorrinolaringologia e fonoaudiologia, psiquiatria e psicologia, entre outros. É possível até mesmo criar uma policlínica, que reúne especialidades ainda mais diversas. “Isso aumenta o movimento de pacientes, ampliando também o faturamento”, ensina Jamil Moyses, professor do MBA em Executivo em Saúde da FGV e especialista em logística e planejamento. Essa também é uma ótima alternativa para recém-formados, que ainda não possuem clientela fidelizada, tampouco reconhecimento em sua especialidade. “É interessante que profissionais que acabaram de se graduar se unam, assim, poderão se apoiar mutuamente. Procurem um padrinho ou mentor que possa tirar suas dúvidas”, aconselha Tosta.
Porém, compartilhar o consultório também tem seus ônus. Pense que você conviverá com alguém em um espaço que poderia ser só seu, então, é preciso saber priorizar a harmonia. “Se você for o dono, poderá criar suas próprias regras. Contudo, se a sociedade for igualitária, vocês precisarão chegar em consensos, o que pode não ser fácil”, alerta Tosta. Além dos custos, vocês também dividirão responsabilidades e atribuições. Por isso, antes de firmar a parceria, estabeleçam como ela funcionará: vocês compartilharão apenas o espaço? Cada um terá sua secretária? Como proceder caso uma das partes queira se desvincular? “É importante fechar todas essas questões para que não haja ruído de comunicação”, frisa Moyses. Por estes motivos, antes de optar por dividir o consultório, pense se você tem perfil para isso.
Outro cuidado a ser tomado é sobre quem você aceitará como parceiro. É preciso entender que a imagem dessa pessoa também se refletirá na sua. Desta forma, se ela tiver má fama, essa imagem negativa também será transmitida para você. Antes de pensar no lado financeiro, lembre-se que sua reputação é seu maior bem enquanto profissional da saúde e que não vale a pena sujá-la por questões financeiras.
Quando ficar sozinho
A melhor parte de ter seu próprio consultório é poder reforçar sua imagem enquanto profissional – afinal, ela não será dividida com mais ninguém. Porém, é preciso ter em mente que todos os custos também serão seus. “É uma opção que vale a pena para quem tem uma receita muito boa, pode se dedicar completamente ao seu negócio e arcar com os custos”, aponta Tosta. Por isso, ela é mais indicada para profissionais que já estão bem estabelecidos em seu mercado.
Ao seguir por este caminho, tome muito cuidado com as finanças. É vital poder contar com uma assessoria financeira, assim como ter noções sólidas de empreendedorismo. Faça um plano de negócios completo, planejamento estratégico, plano de marketing – desde que dentro das diretrizes éticas –, finanças e gestão de pessoas para não ser pego por surpresas desagradáveis.