O governo federal anunciou a intenção de substituir o Bolsa Família por um novo programa de assistência social chamado Auxílio Brasil, com expansão do número de beneficiários e aumento do valor do benefício médio. Essa pretensão exige maior espaço orçamentário para o próximo ano, o que (aparentemente) estava assegurado até meados de julho.
No final daquele mês, o ministro da Economia anunciou que estava “mapeando um meteoro”, referindo-se ao envio de ordem de pagamento de precatórios em R$ 89,1 bilhões para 2022. O problema é que se o governo honrar integralmente essas ordens judiciais, como manda a atual legislação, não haverá recursos suficientes para implementar a promessa de criação do novo programa de transferência de renda.
Assim, o governo passou a estudar várias alternativas para tentar abater esse meteoro, como o parcelamento do pagamento dos precatórios ao longo de vários anos, o que abriria espaço no orçamento federal para a almejada expansão dos gastos públicos. A incerteza gerada pela possibilidade de alteração nas regras fiscais, importantes para a nossa solvência, deterioram as expectativas de investidores.
A análise do ambiente econômico ainda precisa contemplar o elevado risco energético. O nível dos reservatórios das hidrelétricas do SE/CO atingiram apenas 22% da capacidade, menor patamar histórico para o mês de agosto, e o período de seca ainda persistirá até novembro. Assim, o governo passou a divulgar medidas de contenção de consumo de energia elétrica, o que deve restringir a nossa capacidade de produção.
Figura 1. Nível dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e Centro Oeste.
Fonte: ONS.
A persistente pressão inflacionária com aumento do preço de commodities e elevação do preço da energia elétrica continua retirando poder de compra das famílias. Segundo o IBGE, enquanto a massa de rendimento habitual nominal subiu 5,9% nos últimos doze meses, o rendimento real caiu 1,7% no mesmo período.
Dessa forma, a inflação elevada e os riscos fiscais contribuíram para o aumento das expectativas de inflação do próximo ano para patamar acima do centro da meta e, consequentemente, o Banco Central precisará levar a taxa de juros para patamar restritivo em breve. A necessária reação da autoridade monetária também prejudicará a atividade econômica ao longo dos próximos trimestres.
Portanto, o pouso da atividade econômica já está contratado e existem riscos de um pouso abrupto. Precisamos torcer para que o piloto consiga realizar uma aterrissagem suave, com a manutenção do arcabouço fiscal, antecipação das chuvas e moderação do preço das commodities internacionais.