A atividade econômica brasileira retraiu no segundo e no terceiro trimestre deste ano. Indicadores setoriais sugerem uma nova queda da produção neste trimestre. Apesar disso, o Banco Central sinalizou que pretende continuar aumentando a taxa de juros, o que comprometerá severamente o desempenho da atividade de 2022. Superdosagem também não faz bem.
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A teoria econômica é simples. Em uma economia superaquecida, o excesso de demanda em relação à capacidade de produção incentiva o aumento de preços. A baixa taxa de desemprego favorece as negociações salariais para recomposição do poder de compra, gerando aumento de salários e elevação dos custos de produção. A demanda resiliente facilita o repasse dos custos das empresas para o consumidor final, levando a um novo ciclo de aumento de preços. Assim, está formado um processo espiral inflacionário, que precisa ser combatido pelo Banco Central.
A inflação deverá atingir cerca de 10% em 2021. Os principais determinantes são choques exógenos, como o aumento do preço do petróleo no mercado internacional e a necessidade de acionamento de usinas térmicas com a escassez hídrica. Apenas quatro itens (gasolina, etanol, gás de botijão e energia elétrica) representam metade do IPCA deste ano. Verdade que houve aumento da demanda por bens industrializados na pandemia, o que também tem pressionado os preços de alguns produtos.
Para o próximo ano, a questão é se haverá recomposição salarial forte o suficiente para pressionar os custos de produção e manter a demanda doméstica aquecida. Acredito que a recessão econômica já é perceptível para a maioria da população.
O PIB real caiu 0,4% no segundo trimestre e 0,1% no terceiro trimestre, ambos em relação ao período imediatamente anterior com ajuste sazonal. Além disso, indicadores setoriais antecipam uma nova queda da atividade no quarto trimestre. Importante ressaltar que a maior parte do aumento da taxa Selic para 9,25% a.a. prejudicará as condições de consumo e investimentos somente no primeiro semestre do próximo ano, dada a defasagem natural da política monetária. Assim, não espere um bom desempenho da atividade na primeira metade de 2022.
A taxa de desemprego permanecerá em patamar elevado, em torno de 12,5%, no ano eleitoral. Não parece que esse patamar de desemprego forneça aos trabalhadores elevado poder de barganha para conseguir aumentos relevantes de salários, pelo contrário. Ou seja, não estamos em um caso clássico de economia superaquecida, taxa de desemprego baixa e espiral inflacionária, o que permitirá um processo de redução da inflação em médio prazo.
Apesar disso, o Banco Central escreveu nos seus documentos oficiais que pretende continuar aumentando a taxa de juros no próximo ano. Se cumprir sua promessa, a demanda doméstica do segundo semestre também estará comprometida.
Portanto, o fraco desempenho da economia brasileira e a expectativa de fim dos choques exógenos (petróleo e energia elétrica) serão capazes de reduzir a inflação em médio prazo. O remédio da taxa de juros leva tempo para surtir efeito e uma eventual pressa em atingir os resultados levará a uma superdosagem. O resultado dessa ansiedade você já sabe . . . que venha 2023.