A intoxicação medicamentosa, também chamada de intoxicação por medicamentos, representa um grave problema enfrentado no Brasil – a cada ano, os remédios chegam a intoxicar 27 mil pessoas e, em média, 73 morrem anualmente pela má administração ou interação medicamentosa. Entre 2008 e 2012, o País registrou cerca de 140 mil intoxicações e 365 mortes causadas por medicamentos, seja por acidente, uso terapêutico, erro de administração ou tentativa de suicídio.
Os fármacos estão à frente dos agrotóxicos e animais peçonhentos, com 27% dos casos de intoxicação. Os dados são do Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgados em 2015.
“É importante orientar os pacientes a não utilizarem medicamentos por conta própria, e também a não estimularem outras pessoas que o façam. Deve ser esclarecido que não é porque um tratamento fez bem para si, que fará igualmente bem para outra pessoa. Muitas vezes pode ocorrer o efeito contrário”, alerta Roberto Debski, médico e diretor da Clínica Ser Integral de Santos.
Causas e riscos da intoxicação por medicamentos
A pesquisa, que destaca os dados sobre intoxicação por medicamentos no Brasil, também revelou que 32% dos brasileiros aumentam a dose do remédio por conta própria, em uma tentativa de potencializar os efeitos terapêuticos. Dos que se automedicam, 72% afirmaram confiar em indicações feitas pela família, 42,4% acreditam na recomendação de amigos e 13,7% confiam em conselhos dados por vizinhos.
Cerca de 60% dos entrevistados afirmam estar conscientes sobre os riscos. Porém, é importante o esclarecimento ao paciente de como as interações ocorrem. “Existem basicamente dois tipos de intoxicação medicamentosa: farmacocinética e farmacodinâmica. A farmacocinética é a influência de uma medicação sobre outra no que diz respeito ao ‘trajeto’ da medicação no corpo, desde sua absorção e circulação no organismo até sua metabolização e excreção. A farmacodinâmica diz respeito à influência de uma medicação no funcionamento (sua ação farmacológica) de outra medicação. Isso ocorre principalmente no fígado, responsável pela metabolização da maioria dos medicamentos”, explica o psiquiatra Mário Louzã.
“Se um determinado medicamento inibe o funcionamento de certa enzima desse sistema, outro remédio que seja metabolizado por esta mesma enzima sofrerá uma redução deste processo, resultando em uma quantidade maior da medicação circulando no organismo. Isso pode causar mais efeitos colaterais ou mesmo uma intoxicação medicamentosa”, acrescenta.
Educação é o primeiro passo para a conscientizar os perigos da intoxicação medicamentosa
A conscientização da intoxicação medicamentosa começa já no primeiro contato do médico com o paciente, no consultório. “O médico deve educar seus pacientes durante as consultas e atendimentos, orientá-los e dar exemplos de casos. Provoque reflexões e questionamentos quanto aos riscos da automedicação e da utilização de medicamentos e substâncias sem orientação e indicação”, salienta Debski.
Cada tratamento deve ser feito através de uma consulta, exame clínico e complementar para buscar o diagnóstico e o prognóstico. “Isso é baseado em diversos parâmetros e informações, que são individuais para cada paciente. Assim, o medicamento é prescrito somente para este caso em especial. Outra pessoa tem parâmetros geralmente muito diferentes e não se pode utilizar o mesmo medicamento, nem a mesma dose, sob risco de efeitos adversos, intoxicações e agravamento de seu caso”, conclui.