O número de pessoas com mais de 60 anos em todo o mundo dobrará até 2050. Nos países em desenvolvimento, a proporção de idosos em comunidades urbanas aumentará 16 vezes até lá. A mudança demográfica, rumo ao envelhecimento populacional e a urbanização dos territórios, é tendência do século 21 que caminham em paralelo. Por isso, novas formas de pensar o espaço urbano, diante da longevidade, nascem a partir do desafio de toda a sociedade para garantir qualidade de vida e bem-estar.
O envelhecimento ativo requer um processo de otimização de oportunidades para a saúde, participação e segurança, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Para tanto, é fundamental compreender que as cidades, enquanto centros de atividades culturais, sociais e políticas, local de geração de ideias e serviços, precisam se tornar um ambiente amigo do idoso. Isto é, promover infraestrutura adequada para compensar alterações físicas e sociais do processo de envelhecimento. O tema será um dos que estará em debate durante o Congresso da Longevidade Seguros Unimed, realizado no Longevidade Expo + Fórum, entre o fim de setembro e início de outubro.
Transformar as cidades em espaços amigos dos idosos requer compreender uma mudança no padrão de convivência social, explica o professor e ex-diretor do Grupo de Trabalho – Moradia da Associação de Docentes da Unicamp, Breno da Costa Carvalho Júnior. “Com a quantidade de filhos diminuindo, está acabando aquele modelo da pessoa envelhecendo dentro da família. Há também uma maior mobilidade, gente que vai trabalhar e viver em cidades diferentes das que nasceu e envelhece longe de amigos e familiares”, explica.
A garantia de um envelhecimento saudável requer cinco componentes: viver junto a uma comunidade, sem isolamento social; cuidar da alimentação; praticar exercícios físicos; desenvolvimento contínuo do aprendizado; e um sono de qualidade. Nesse contexto, surgem algumas tendências. É o caso do cohousing sênior, modelo que surgiu na Dinamarca. Ele estimula a criação de uma comunidade residencial projetada pelos idosos, onde cada um tem uma residência e há também espaços comuns, como áreas de lazer e refeitórios.
“Há pesquisas mostrando que pessoas que moram em cohousing sênior vivem cerca de sete anos a mais e necessitam menos de cuidados médicos e medicamentos”, detalha Breno. Junto a um grupo de 45 pessoas, atualmente, o professor estrutura o projeto da Vila ConViver. Formada a partir dos debates de professores aposentados sobre a longevidade, a experiência está em fase de definição da rotina de atividades para desenvolvimento do projeto arquitetônico. Há normas jurídicas, dentro de um estatuto da associação de moradores, já criadas. Elas definem, entre outras questões, as idades mínima e máxima para os eventuais novos moradores. A Vila terá imóveis de 95 m2 para casais e 65 m2 para moradores únicos, adaptadas com acessibilidade total.
Enquanto em modelos como casas de repouso a arquitetura da rotina é vertical, com outros definindo horas de acordar e atividades, no cohousing sênior os pilares são horizontais, com apoio mútuo, sociabilidade e solidariedade. Além dos 45 integrantes, há 40 pessoas em fila de espera pela Vila ConViver. A meta do grupo é terminar o projeto até o fim deste ano e se mudar em 2021 para as casas. Além da Dinamarca, esse é um modelo consolidado em outros países da Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, São Paulo lidera em quantidade de iniciativas.
Outros exemplos
Na Paraíba, o governo do estado lançou o programa Cidade Madura, em 2014. A iniciativa é destinada a moradores de baixa renda e criou condomínios em três cidades, com casas de 54 m2 adaptadas. Dentro dos espaços, há posto de saúde, academia ao ar livre, salas de aula e outros ambientes de convivência. O local é destinado a pessoas a partir dos 60 anos, com renda de até cinco salários mínimos, que morem sozinhas ou cônjuges e tenham autonomia na realização das atividades diárias.
Modelo semelhante ocorre na cidade de São Paulo, por meio do programa Vila Dignidade. Também voltado a idosos de baixa renda, o projeto institui moradias para pessoas a partir dos 60 anos, com renda de até dois salários mínimos, que vivam sozinhas e tenham autonomia na rotina. Elas são escolhidas por meio do Conselho Municipal de Idosos. Todas as casas possuem acessibilidade e equipamentos como um “botão de pânico”, para avisar aos vizinhos a necessidade de ajuda em caso de acidentes.
Congresso de Longevidade
Esse assunto será abordado no Congresso de Longevidade Seguros Unimed, que ocorre em 30 de setembro e 1º de outubro, no Expo Center Norte, em São Paulo, e vai compor o Longevidade Expo+Fórum. Serão sete painéis, com capacidade para 400 pessoas. A programação pode ser conferida e a inscrição pode ser feita neste link: https://longevidade.com.br/forum.html.
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