A atividade mundial apresentou forte expansão no primeiro trimestre e deverá acelerar nos próximos meses. A vacinação e os enormes estímulos fiscais e monetários continuam impulsionando o consumo, a produção e o emprego ao redor do globo.
Figura 1. PMI Manufaturados (1) sinaliza aceleração da produção industrial mundial nos próximos meses.
Fonte: Bloomberg e Eduardo Yuki. (1) Indicador proprietário que mensura a atividade manufatureira mundial.
Os EUA aprovaram mais um imenso pacote fiscal em torno de USD 1,9 trilhão no mês passado, o que sustenta a expectativa de crescimento do PIB real em 7% nesse ano. A rápida vacinação pode antecipar o retorno do consumo de serviços pelas famílias, gerando um viés ainda mais positivo para essa projeção.
Figura 2. PIB real dos EUA voltará para a tendência anterior da crise no segundo semestre desse ano.
Fonte: Bloomberg e Eduardo Yuki.
No Brasil, a atividade econômica deverá retrair nesse primeiro semestre e recuperar gradualmente na segunda parte do ano. A situação financeira das famílias está deteriorando desde o final do ano passado com a combinação de vários fatores:
- O auxílio emergencial injetou R$ 322 bilhões no bolso das famílias no ano passado. Infelizmente, a deterioração das contas públicas impede a renovação do programa nessa magnitude e iniciaremos uma nova rodada do auxílio de R$ 44 bilhões, o que representa uma redução significativa do poder de compra da população.
- O forte aumento do preço de alimentos e combustíveis nos últimos meses também está diminuindo o poder de consumo das famílias.
- As famílias estão comprometendo 31% da renda com pagamento de juros e amortização de dívida passada. Esse valor historicamente elevado prejudica a obtenção de novo empréstimo.
Assim, as vendas de varejo estão caindo desde dezembro do ano passado, antes mesmo do recrudescimento recente da pandemia. As medidas de isolamento social apenas reforçam, ainda que temporariamente, a fraqueza prévia das condições de consumo.
Figura 3. Brasil: Retração das vendas de varejo desde dezembro do ano passado.
Fonte: IBGE e Eduardo Yuki.
A retração do consumo, a queda da confiança dos empresários e o aumento do custo de capital (aumento da taxa de juros futura) antecipam um fraco desempenho dos investimentos das empresas à frente.
Esses fundamentos sustentam a minha projeção de expansão do PIB real em apenas 2,8% nesse ano, abaixo do consenso. Além disso, a taxa de desemprego deve continuar alta por muitos trimestres.
Figura 4. Brasil: Retração da atividade ao longo do ano.
Fonte: IBGE e Eduardo Yuki.
A elevada ociosidade da economia minimiza a propagação dos choques dos preços de commodities e da desvalorização cambial para os bens e serviços mais sensíveis à demanda doméstica. Enquanto a inflação de bens internacionalmente comercializáveis atingiu 10,4% nos últimos doze meses (o maior patamar desde o final de 2003), a inflação de bens não comercializáveis está em apenas 2,7% (patamar historicamente baixo).
Estimamos que o IPCA atingirá o pico de 7,7% em junho desse ano e começará a recuar até a meta de 3,5% em dezembro de 2022. Isso sustenta a expectativa de que o banco central realizará uma “normalização parcial” da taxa de juros.
Portanto, a fragilidade fiscal impede a renovação do auxílio emergencial nos moldes do ano passado. As condições de consumo das famílias têm deteriorado substancialmente nos últimos meses, o que levará a uma retração da atividade nesse semestre. Prepare-se.