O IPCA atingiu 8,4% em junho deste ano, acumulando nos últimos doze meses o maior patamar desde setembro de 2016. Parte relevante da alta da inflação é resultado do aumento do preço de commodities no mercado internacional e da desvalorização cambial, o que tem pressionado os preços de bens comercializáveis.
Além disso, os problemas com as cadeias de produção ao redor do mundo também prejudicam nossa capacidade de oferta manufatureira e, consequentemente, colaboram para o aumento do preço de bens industrializados. A terceira fonte de pressão tem sido o aumento da tarifa de energia elétrica, diante da necessidade de acionamento das usinas térmicas.
Importante destacar que os preços dos bens que dependem exclusivamente da demanda interna (bens não comercializáveis) e do setor de serviços continuam bem-comportados, como mostra a Figura 1. Enfim, até agora temos uma inflação concentrada nos bens comercializáveis e regulados pelo governo.
Figura 1. Inflação em aceleração.
Fonte: IBGE e cálculos próprios.
Justamente para minimizar a contaminação do choque inicial de commodities para outros itens da inflação, o Banco Central continuará aumentando a taxa de juros nos próximos meses. O consenso dos economistas espera que a Selic alcance 7,0% no final deste ano.
O aumento da taxa de juros impactará, como sempre, a atividade e a inflação. O endividamento do setor privado está em patamar historicamente elevado e um aumento do custo de crédito exigirá espaço maior no orçamento familiar e empresarial para honrar os compromissos financeiros, prejudicando o consumo e os investimentos.
Figura 2. Elevado endividamento do setor privado.
Fonte: BCB.
Outro efeito tradicional do aumento da taxa de juros será o desaquecimento do ritmo de expansão da concessão de crédito, o que também arrefecerá a demanda doméstica.
Assim, a atividade econômica deverá sentir os efeitos tradicionais de um processo de aumento da taxa de juros. O consumo das famílias e os investimentos das empresas deverão moderar (ou até mesmo estagnar) nos próximos trimestres, o que ajudará no processo de desinflação em 2022.
Portanto, a atividade econômica desacelerará com os efeitos tradicionais do aumento da taxa de juros e o consenso precisará refletir sobre suas projeções para o PIB real de 2022.