A atividade econômica tem apresentado desempenho aquém do desejado por todos nós há muito tempo. O PIB real deve subir apenas 0,9% neste ano, e a taxa de desemprego permanece ao redor de 12%, com ajuste sazonal. Enquanto esperamos os efeitos positivos das reformas estruturais, vamos fazer o que ainda é possível.
Os governos possuem dois instrumentos para estimular temporariamente a economia: política fiscal e política monetária.
O impulso fiscal consiste em redução de impostos e/ou aumento de despesas do governo. Infelizmente, as contas públicas estão em péssimas condições. A dívida pública continua subindo rapidamente e atingiu 79,8% do PIB em agosto, ante 77,2% do PIB no final do ano passado. Não existe espaço para qualquer aventura fiscal.
O principal estímulo monetário é a redução da taxa básica de juros. Menor taxa Selic impulsiona o mercado de crédito e, consequentemente, o consumo das famílias e os investimentos das empresas. Esse canal já está a todo vapor, como mostra o aumento da concessão de crédito para pessoa física em 12,7% nos últimos 12 meses, muito acima da média histórica. Ou seja, não é por falta de crédito que o nosso crescimento econômico tem decepcionado.
Figura 1: Concessão de crédito para PF
Fonte: Banco Central do Brasil
Diante das projeções de inflação abaixo da meta, o Banco Central do Brasil deverá levar a taxa Selic para entorno de 4,75% ao ano, nos próximos meses. Assim, estamos estimulando ainda mais, justamente, aquilo que já está forte (mercado de crédito) para compensar o que ainda está ruim.
Uma reflexão importante é que todo estímulo cíclico tem um limite. O limite dos ciclos de expansão de crédito é dado pelo nível de comprometimento de renda das famílias com serviço de dívida. Provavelmente, após o forte impulso ao crédito entre 2017 e 2020, as famílias estarão com nível de endividamento desconfortável em 2021. Você emprestaria seu dinheiro para alguém alavancado?
Enfim, políticas econômicas anticíclicas são importantes instrumentos temporários, ou seja, com prazo de vencimento. Essa nova onda de queda de juros sustentará a aceleração do PIB real para 2,0% em 2020. A partir daí, o nosso crescimento dependerá somente dos nossos fatores estruturais. Ainda temos tempo, mas precisamos semear nosso futuro mais rapidamente.