Em março do ano passado, iniciei a tarefa de escrever mais um livro: o oitavo na linha cronológica do meu ofício de escritor. A literatura, que sempre foi uma atividade paralela ao meu ofício de médico, hoje se equaliza à de gestor e líder do Sistema Unimed do Rio Grande do Sul. Na era atual, tenho esses dois ofícios (como costumo chamar), os quais ocupam-me diuturnamente. A diferença desta nova missão, contudo, estava no conteúdo do texto a ser criado para exposição aos leitores. Minha formação é dirigida para as narrativas de imaginação: contos, novelas, romances. O desafio, agora, era outro. Tratava-se de atender demanda que meu entorno considerava necessária. Escrever sobre liderança, valores e princípios, vivências relatadas no decorrer de cinco décadas não era tarefa fácil. A princípio relutei. Seria preciso mudar a linguagem do texto, que é diferente das narrativas de ficção. Ainda mais, o público leitor seria de outra camada de interesses. Tanto argumentaram que cedi. Depois de um ano de trabalho, rememorações, pesquisas, leituras, revisões, modificações, reescrituras, cheguei ao último capítulo e, agora, escrevia o epílogo para fechar o ciclo exposto no sumário do livro. Lançamento, com palestra na Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul – FEDERASUL, marcado para o dia 29 de abril. E aí … caiu sobre o planeta a praga do NOVO coronavírus (porque o antigo corona já estava desmoralizado). Então tudo perdeu importância, fomos para o isolamento e os eventos, inclusive o meu, cancelados sine die.
Mas, por outro lado, quis o acaso (ou o destino, que é a mesma coisa) que, antes de enviar o livro para a impressão na gráfica, eu ainda pudesse escrever mais um capítulo sobre o que estamos vivendo hoje. Outros articulistas, jornalistas, historiadores, cientistas escreverão a respeito desta pandemia no decorrer de décadas, com muito mais conhecimento e distinção, mas poucos serão contemplados pelo momento de estar com o seu livro às vésperas do lançamento, podendo ainda acrescentar um texto redigido em pleno isolamento social.
Não teria eu – como articulista do Conexão – outra forma de apresentar a matéria senão da maneira exposta nos parágrafos acima. Fugir da realidade que até então era considerada apenas ficção cinematográfica, discorrendo sobre a liderança duradoura nos moldes dos artigos anteriores, seria escapar da questão crucial e humanitária que a todos envolve. Que interesse poderia ter? Por isso, este longo preâmbulo explicativo.
Já citei, no decorrer do livro, as dificuldades que enfrentou Winston Churchill para decidir sobre os jovens combatentes isolados na praia de Dunquerque. O que fazer? Como retirá-los de lá, sob o fogo inimigo em campo aberto? À liderança cabe a tomada de atitude, para o bem ou para o mal; para o acerto e a glória posterior ou para o erro e a culpabilidade que recairá sobre o líder.
O mesmo acontece agora. O momento atual exige forte e decisiva liderança na tomada de decisões em nosso país. Para o acerto ou para o erro, com as suas respectivas consequências. Estamos vivendo momento oportuno e decisivo para a utilidade dos conceitos sobre liderança que tenho exposto no decorrer desses tantos artigos, como se novela fosse. Dirigentes do Sistema Unimed, está na hora de praticá-los!
À propósito: precisarei das próximas edições para as argumentações necessárias, a fim de levar adiante a significância da liderança como protagonista na salvação de vidas durante as grandes crises, onde a ameaça do caos paira sobre a população.