A coragem para liderar (Dare to lead) – livro da pesquisadora da Universidade de Houston, Texas – Brené Brown – tem muito a considerar sobre o tema que assumimos focar nesses artigos. A apresentação da obra destaca que “liderança não tem a ver com cargos, status ou poder. Um líder pode ser qualquer pessoa que se responsabiliza por reconhecer e desenvolver o potencial das outras pessoas e de suas ideias”. Dentre as múltiplas tentativas de conceituar liderança, talvez esta seja uma das mais diretas e compreensíveis. Sem palavras difíceis, sem tentativas de definições tecnocientíficas por demais elaboradas. E adiante, afirma que “numa cultura plena de escassez, de coragem, regida pelo medo e pela incerteza, há necessidade do desenvolvimento de habilidades que são profunda e exclusivamente humanas”. Bingo! Nada mais correto em três linhas para aplicar-se à liderança duradoura. Já escrevi sobre o “poder da coragem”, no artigo anterior, quando ainda não tinha conhecimento desta obra.
Depois disso, não precisaria dizer mais nada que fosse superior ao que acima foi identificado, embora ainda merecesse exemplificar com uma questão: o que o líder pode fazer mais rápido e melhor do que a inteligência artificial proporcionaria hoje, com o extremo avanço da tecnologia? Resposta: a empatia, o afeto, o carinho, o amor e a coragem. Por isso, é que a autora resolveu nominar sua obra com o título citado.
Numa época em que assistimos pais e filhos sentados à mesa de um restaurante e todos digitando em seus celulares, tenho a nítida impressão de que eles estão “falando” entre si. Cada um deles trata de seu assunto particular com outra pessoa distante dali. E então, me questiono. A evolução continuada da tecnologia traz enorme benefícios, e trará cada vez mais, no entanto, não era para isso. Esta família reunida, talvez apenas naquelas poucas horas de lazer, no ambiente alegre de um restaurante, deveria estar “conversando” entre si, tratando de contar as peripécias de seus dias, os namoros da menina, como foi o futebol do rapaz, os negócios do marido, as aulas da mulher, olhando-se diretamente, com o gestual referente à história, fisionomias que traduzissem os sentimentos e as raivas da semana. Tocando-se as mãos, brindando com os copos de vinho, discutindo o cardápio. Dá pra entender? O que tem isso a ver com liderança?
Resposta: a evolução dos meios tecnológicos não pode suprimir os sentimentos e as habilidades do ser humano. Por mais que o líder pregue, pratique e busque as inovações em todas as áreas na evolução e modernização de sua empresa, para se equivaler à concorrência, e colocar-se como um bom gestor, não pode perder os inegociáveis princípios e valores, a empatia, o afeto, a honestidade, o contato e a coragem, no relacionamento com seus liderados. O “saber ouvir” os problemas, por si só, já produz um sentimento de respeito e de credibilidade, elevando o conceito que o manterá na liderança por longo período.
O verdadeiro líder não foge do enfrentamento de situações difíceis de resolver, por vezes constrangedoras, que envolvem pessoas ligadas a ou há longos anos na empresa. Não deve procrastinar a solução, além do espaço necessário para avaliar o caso, ouvindo todas as partes. Ao final, sentirá que agindo assim, merecerá o respeito e a compreensão dos envolvidos.