O consumo de dispositivos eletrônicos para fumar é proibido no Brasil há 10 anos, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Apesar disso, tem sido cada vez mais frequente ver os chamados DEFs sendo utilizados nas ruas e em festas. Com inúmeras substâncias tóxicas em sua composição, esses equipamentos estão sendo relacionados ao adoecimento da população. Nos Estados Unidos, a Epidemia da Doença Pulmonar Associada ao Uso de Dispositivos Eletrônicos para Fumar (Evali) já levou cerca de 2,4 mil pessoas à hospitalização. O Brasil tem três casos suspeitos, o que motivou alerta do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
De acordo com o Inca, todas as pessoas identificadas com essa doença no Brasil fizeram uso de cigarros eletrônicos. A maioria delas relatou ter usado THC (tetrahidrocanabiol, componente da maconha), acompanhada ou não de nicotina. Os principais sintomas apresentados foram: tosse, falta de ar e dor no peito; náusea, vômito, dor abdominal ou diarreia; febre, calafrio e perda de peso. Alguns dos pacientes relataram que os sintomas se desenvolveram ao longo de poucos dias; outros demoraram semanas. Os sintomas foram causados por infecção pulmonar.
Tanto no Brasil como nos Estados Unidos, os casos começaram a ser relatados em 2019, a partir do surgimento de uma doença pulmonar grave relacionada aos DEFs. Com o crescimento da quantidade de doentes, passou a ser considerada uma epidemia. O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos relatou, até dezembro de 2019, 52 mortes pela doença. Lá, 77% dos casos foram em pessoas com menos de 35 anos, sendo 15% menores de 18 anos.
Entre as substâncias tóxicas que são liberadas e compõem os dispositivos, o Inca elencou, em seu alerta, nicotina, formaldeído, acetaldeído, acroleína, nitrosaminas, metais pesados, como níquel, cromo, manganês e chumbo; flavorizantes, como o dyacetil; compostos orgânicos voláteis e outras combinações desconhecidas. O Inca afirma que uma revisão de estudos mostrou que mais de 80 compostos foram identificados nos aerossóis dos DEFs. Essas substâncias podem causar desde irritações no organismo até câncer. No caso dos cigarros aquecidos, inclui-se na lista o tabaco e a liberação de monóxido de carbono, amônia e benzeno.
Segundo o Inca, o uso dos dispositivos para fumar, ao contrário do que é alardeado, não ajuda a cessar o tabagismo. Não há evidências científicas suficientes que relacionem o uso desses equipamentos à redução da dependência de nicotina. A Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta, também em 2019, mostrando que na maioria dos países onde esses dispositivos estão disponíveis, os usuários continuam fumando o cigarro convencional ao mesmo tempo. Uma revisão sistemática de estudos científicos mostrou também que a chance de um jovem começar a fumar cigarros convencionais quadruplica com o uso de DEF. Outros riscos relacionados a esse consumo são acidentes por explosão das baterias, causando queimaduras; ingestão acidental dos líquidos contidos dentro deles; princípios de incêndio; e doença pulmonar severa.
Os DEFs possuem diferentes formas e mecanismos. Eles funcionam usando uma bateria para aquecer a solução líquida — composta, principalmente, de nicotina, propilenoglicol ou glicerol e aditivos com sabores — produzindo um aerossol que é inalado pelo usuário. Há modelos parecidos com cigarros, canetas, pen drives e marcadores de texto. Há ainda os vaporizadores de ervas secas. A comercialização, importação e a propaganda deles é proibida no país, respeitando a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da Anvisa nº 46 de 2009.