A crise decorrente da pandemia do novo coronavírus está preocupando os pequenos empresários. Alguns gestores de clínicas, dependendo da especialidade, podem sentir queda no movimento de pacientes e faturamento por consequência do isolamento social. Conversamos com especialistas para te ajudar a saber como cuidar do seu negócio nesse período de incertezas.
As pequenas empresas representam uma parte importante da economia brasileira. Só no Estado de São Paulo, correspondem a 98% das companhias, segundo o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Os pequenos negócios também são responsáveis por 52% dos empregos com carteira assinada.
“Ninguém esperava um evento que trouxesse tanta incerteza e desconfiança. As pequenas empresas tendem a utilizar muito dinheiro próprio e não tem caixa para suportar momentos em que a demanda minimiza. Eu diria que poucos negócios possuem liquidez para suportar os efeitos da crise do coronavírus. Em razão disso, precisamos que o governo intervenha de forma rápida e assertiva para evitar que empresas quebrem”, diz José Renato Jardim, professor da escola de negócios Saint Paul.
O isolamento social é uma das principais medidas de contenção do novo coronavírus. Em São Paulo, por exemplo, desde o dia 24 de março está em vigor o decreto 64.881, que determina o fechamento de todos os serviços e comércios considerados não essenciais no Estado.
Segundo o documento, a ação não inclui serviços relacionados à saúde como, hospitais, clínicas, farmácias, lavanderias e serviços de limpeza. No entanto, para evitar a propagação do Covid-19, o Conselho Federal de Medicina autorizou o uso da telemedicina que posteriormente foi regulamentado pelo Ministério da Saúde e, nesta semana, teve um projeto de lei aprovado no Congresso Nacional. Dessa forma, os médicos podem manter o atendimento dos pacientes.
Gestão em tempos de crise
Com a possibilidade de continuar funcionando, os gestores de clínicas podem inovar e buscar recursos tecnológicos para realizar atendimentos por videoconferência e consultas em domicílio em casos de extrema necessidade e assim manter as receitas.
No entanto, algumas especialidades como, a odontologia podem ser mais impactadas com o cancelamento de consultas e o adiamento de tratamentos. Segundo Paulo Tavares, professor de finanças da IBE Conveniada FGV, os gestores precisam saber que são situações pontuais e os prejuízos de agora serão recuperados ao longo do ano.
“Agora começa surgir a necessidade da administração profissional com foco no fluxo de caixa, porque não terá entrada de recursos e as obrigações com pagamento de funcionários e fornecedores continuam existindo. A gestão rigorosa do fluxo de caixa é essencial para evitar a quebra dessas empresas”, afirma.
É fundamental reavaliar o orçamento da clínica e fazer um novo planejamento financeiro observando as entradas e saídas. “Primeiro é necessário avaliar as receitas que devem cair bastante, verificar quais gastos podem ser reduzidos e depois a necessidade de captar recursos em fintechs ou bancos tradicionais”, diz Estevão Alexandre, coordenador dos cursos de pós-graduação da Fipecafi.
Hora de renegociar
O momento é complicado para todos os pequenos negócios, por isso renegociar é o melhor caminho para minimizar os danos da crise. Se o aluguel pesar no orçamento, ligue para a imobiliária, exponha a situação e tente ajustar o contrato. “Pense que o dono do imóvel também não quer perder a renda e dificilmente conseguirá alugar neste momento”, diz Jardim.
Em caso de dívidas, os gestores também podem renegociar observando as condições oferecidas e ponderando a melhor solução. “Busque alternativas e outros empréstimos para substituir os que têm juros altos”, recomenda.
Governo oferece linha de crédito para pequenos negócios
No dia 27 de março, o governo brasileiro anunciou uma linha de crédito especial de R$ 40 bilhões em dois meses para custear a folha de pagamento das pequenas e médias empresas durante a crise. O valor vai pagar até dois salários mínimos (R$ 2.090) de cada funcionário.
A medida deve beneficiar mais de 12 milhões de trabalhadores e 1,4 milhão de negócios com faturamento anual de R$ 360 mil a R$10 milhões. Para custear o programa, 85% dos recursos serão do governo e 15% dos bancos privados.
Segundo o Banco Central, a taxa de juros para a linha de crédito será de 3,75% – a mesma da taxa Selic – com carência de seis meses para iniciar o pagamento do empréstimo e três anos para quitar toda a dívida.
“O governo precisa estimular a economia. Se não garantir o caixa das empresas, elas não pagam seus fornecedores e demitem funcionários em massa gerando um efeito cascata. O objetivo agora é sobreviver. Dessa forma, passaremos por este momento de grande instabilidade e, com toda certeza, seremos pessoas e empresários melhores”, finaliza Jardim.