Em dez anos a obesidade no Brasil avançou gravemente. Na última década, houve um aumento de 41% no número de pessoas obesas entre os usuários de planos de saúde. A ocorrência de indivíduos acima do peso também cresceu, tendo sido registrado um incremento de 15% entre 2008 e 2017. Com o objetivo de jogar luz sobre o problema e tentar minimizá-lo, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) lançou o Manual de Diretrizes para o Enfrentamento da Obesidade na Saúde Suplementar Brasileira.
O manual é fruto do trabalho do Grupo Multidisciplinar para Enfrentamento da Obesidade, área criada pela ANS para promover melhorias e incentivos na atenção à saúde relacionada à prevenção e ao combate dessa condição. Para a diretora de Normas e Habilitação dos Produtos da ANS, Karla Coelho, as operadoras devem repensar a organização das suas redes de atenção.
“É necessário rediscutir as formas usuais de organização dos serviços de saúde tendo como objetivo monitorar os fatores de risco, com gerenciamento das doenças crônicas e compreensão da morbidade”, destaca Karla. “O enfrentamento da obesidade é complexo, por se tratar de uma combinação de fatores biológicos, comportamentais, socioculturais, ambientais e econômicos.”
Hoje 53% dos usuários de planos estão acima do peso, e 17%, são considerados obesos. O excesso de peso constitui o segundo fator de risco mais importante para as doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, hipertensão, cirrose, depressão, doenças cardiovasculares, entre outras.
Prevenção
A diretora da ANS enfatiza a importância da prevenção para o combate da já considerada “epidemia da obesidade”, com o envolvimento de todos os setores da sociedade, o que inclui escolas, governo, áreas científicas, indústrias alimentícias e mídia. “Prevenir e tratar precocemente reduz a morbimortalidade do indivíduo, além dos custos do sistema de saúde”, afirmou.
Entre as prevenções indicadas no manual está a realização do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) para todos os pacientes com menos de 60 anos que procuram a rede prestadora de serviços ambulatorial e hospitalar. De acordo com Karla, há duas abordagens possíveis para esses pacientes: a indicação de adoção de hábitos saudáveis, o que inclui alimentação adequada e prática de exercícios físicos, e tratamento clínico da obesidade com medicamentos. Para casos extremos, há a possibilidade de realização de cirurgia bariátrica.
Já no caso da prevenção entre crianças e adolescentes – cujos períodos mais críticos são a fase intrauterina, os primeiros dois anos de vida e a adolescência –, a ANS lembra que a forte influência do ambiente também deve ser considerada. E, por isso, Karla destaca que os profissionais de saúde, em especial os pediatras, devem estar atentos aos fatores de risco e devem orientar os pais quanto à alimentação saudável, controle do tempo de acesso à internet e jogos eletrônicos e à prática de atividade física. “Os profissionais de saúde devem conscientizar os beneficiários sobre a importância de se evitar o consumo de alimentos ultraprocessados e estimular o consumo de frutas, verduras e legumes, a prática de atividade física, a redução de gordura e açúcar, entre outros”, finaliza Karla.