Deixar que seu dinheiro seja aplicado automaticamente todos os meses e, de quebra, participar de sorteios de dinheiro e bens. Com essa descrição, este parece um grande negócio. No entanto, trata-se de uma das maiores ciladas financeiras: os títulos de capitalização.
Na verdade, eles não são investimentos mas, sim, jogos de azar. “Seus rendimentos são imateriais e, muitas das vezes, tendem a zero. Quando rendem algo, após todos os descontos, ficam abaixo da poupança”, afirma o coach financeiro Robson Profeta.
Neles, o contratante deve “aplicar” certa quantidade de dinheiro – alguns bancos pedem o mínimo de R$ 10 ao mês – por determinado período, que pode variar de dois a cinco anos. “Ao final do período contratado, o cliente resgataria o valor total com a correção da chamada Taxa Referencial (TR), que em 2016 fechou com o valor de 2,01%”, explica Mikael Fontes, educador e CEO do ABC do Investidor.
Cotas, taxas e baixo rendimento
Apesar de parecer simples, há diversas maneiras de perder dinheiro quando se adere a um título de capitalização, a começar pelos muitos descontos – todos eles detalhados no contrato. Existe a cota de capitalização – que é a que de fato será acumulada, corrigida e devolvida no vencimento do título –, de sorteio, que vai para o bolso de quem ganhar o prêmio, e de carregamento, que funciona como uma taxa administrativa e, portanto, é a remuneração do banco.
Para efeito de ilustração, consultamos as condições oferecidas por um banco grande. A primeira parcela, apenas 10% do valor aplicado será devolvido ao cliente – a não ser que ele ganhe o sorteio. “Nas demais parcelas, a cota de sorteio irá representar uma perda mensal de 2,57% do que for ‘investido’ entre a segunda e a última parcela”, demonstra Fontes. Neste exemplo, o consumidor fecha o contrato de 60 parcelas.
Isso significa que, se houver desistência na primeira parcela, o cliente perde 90% do valor. As perdas acontecem em todos os casos de desistência antes do vencimento. Assim, não se pode dizer que títulos de capitalização são uma forma eficiente de formar uma poupança ou reserva de emergência, pois o dinheiro não estará disponível quando se precisar dele.
Além disso, estando parado, o valor também sofre pela corrosão da inflação, perdendo seu poder de compra. “Quando você coloca R$ 100 na caderneta de poupança, você tem certeza de que irá sacar este montante no momento em que desejar, corrigido com os juros envolvidos. Quando você gasta o mesmo valor em títulos de capitalização, a única certeza que você tem é que uma boa parte desse dinheiro ficará com a instituição financeira”, alerta Fontes.
Opções de investimentos de verdade
É preciso, ainda, considerar o dinheiro que se deixa de ganhar ao optar por um título de capitalização em vez de um investimento de verdade, como o Tesouro Direto. De acordo com Fontes, ao investir R$ 100 no Tesouro Selic – que tem como base a taxa Selic vigente no período de aplicação –, após cinco anos sem aplicar mais nada, obtém-se o valor líquido de resgate de R$ 224,53, já descontada a alíquota de 15% do Imposto de Renda.
Sendo assim, por que tantas pessoas ainda aderem aos títulos de capitalização? Além da sedução dos prêmios e aplicação automática, há ainda a grande pressão dos bancos. “Essa é uma forma da instituição financeira captar recursos do cliente a um custo baixo e repassá-los a juros altos para outros clientes que, por exemplo, necessitam de empréstimos e financiamentos”, justifica Profeta.
Por isso, é preciso muito cuidado. É comum a prática da venda casada – quando se vincula a aquisição de um produto ou serviço a outro. Acontece quando, por exemplo, o cliente pede um empréstimo ao banco, que coloca como condição para tanto que ele também adquira um título de capitalização.
“Essa é uma prática expressamente proibida pelo Banco Central e pelo Código de Defesa do Consumidor. Não aceite esta imposição. Fale com o gerente do banco e, se mesmo assim lhe for negado o direito de escolha, notifique a ouvidoria do banco e denuncie aos órgãos de defesa do consumidor”, ensina Profeta.