Ao longo dos últimos anos, a baixa taxa de juros nos países desenvolvidos impulsionou o consumo das famílias e a produção ao redor do planeta. A expansão de atividades propiciou redução significativa da taxa de desemprego, que atingiu apenas 3,8% nos Estados Unidos. O que tudo isso tem a ver conosco?
Após anos e anos de estímulos, o banco central americano tem sinalizado que aumentará a taxa de juros do atual patamar de 2% a.a. para 3,5% a.a. até o início de 2020. O aumento da remuneração nos títulos americanos beneficia o ingresso de capitais aos EUA e, consequentemente, prejudica o financiamento dos países emergentes.
A intensificação da discussão sobre guerra comercial também aumenta a incerteza mundial e prejudica especialmente os países em desenvolvimento. Precisamos lembrar que uma maior abertura comercial ao longo das últimas décadas possibilitou a redução dos custos de produção, maior diversidade de produtos ao consumidor e o desenvolvimento de vários países.
O aumento de juros nas economias avançadas e uma eventual guerra comercial podem deixar o capital internacional mais seletivo e, consequentemente, desvalorizar a taxa de câmbio nas economias emergentes. Naturalmente, o impacto em cada país depende dos seus fundamentos. Tudo isso ajuda a explicar parte do movimento da nossa moeda nos últimos meses.
Então, quais são os nossos fundamentos? As contas externas continuam sólidas, com elevado superávitcomercial, elevado patamar de reservas internacionais e dívida externa líquida negativa. Reiteramos que o nosso problema está no elevado déficit fiscal.
A dívida pública bruta passou de 55,8% do Produto Interno Bruto (PIB), em maio de 2008, para 77%, no mesmo mês deste ano (média dos países emergentes está em 51% do PIB). Considerando-se as projeções orçamentárias, nosso endividamento público deverá continuar subindo para 85% do PIB em poucos anos. Enfim, aqui temos uma doença para curar.
Como problema pouco é bobagem, tivemos no final de maio a paralisação dos caminhoneiros. Esse choque interrompeu a produção de vários setores da economia e prejudicou a recuperação da atividade. Um exemplo foi a queda de quase 30% na produção de veículos em relação ao mês anterior, com ajuste sazonal.
Como se não bastasse, ainda temos a incerteza eleitoral pela frente. No mês passado escrevi sobre a necessidade de que o novo presidente tenha força política para aprovar as reformas fiscais no Congresso. Reformas sempre mexem com interesses de parte da população e, naturalmente, exigem muita sabedoria.
Todas essas incertezas estão pesando sobre a confiança dos empresários. O menor otimismo está prejudicando as decisões de contratação de novos trabalhadores e interrompendo o ciclo de melhora do mercado de trabalho que ocorria desde meados do ano passado. Naturalmente, essas incertezas também afetaram os preços dos ativos financeiros.
Portanto, a arte do crescimento econômico envolve muito planejamento, muita dedicação e vários sacrifícios. As eleições estão chegando e a sociedade decidirá seu destino pelo voto. Minha recomendação é que cada um gerencie seus investimentos conforme a convicção pessoal sobre a aprovação de reformas estruturais. Qual o tamanho da sua convicção?