O Brasil tem experimentado uma queda na cobertura vacinal de até 20% na comparação entre 2015 e 2017. Vacinas que antes tinham cobertura de 95% caíram para 80%, como foi o caso da poliomielite. A edição de agosto de 2018, da revista Pesquisa Fapesp, traz uma reportagem que procura desvendar as causas dessa queda. São citados seis motivos principais:
- A percepção enganosa dos pais de que não é preciso mais vacinar porque as doenças desapareceram;
- O desconhecimento de quais são os imunizantes que integram o calendário nacional de vacinação;
- O medo de que as vacinas causem reações prejudiciais ao organismo;
- O receio de que o número elevado de imunizantes sobrecarregue o sistema imunológico;
- A falta de tempo das pessoas para ir aos postos de saúde, que funcionam das 8h às 17h, só nos dias úteis;
- A mudança no sistema de registro de imunização, iniciada em 2012 e ampliada nos dois últimos anos.
Cinco dos seis motivos são creditados aos usuários, principalmente pais e mães, mas não a movimentos antivacina que parecem ser mais difundidos nos Estados Unidos e Europa. A informatização das salas de vacinação trouxe o benefício do controle nominal, e não apenas por dose. Se antes uma mesma pessoa podia receber duas doses e essas serem contabilizadas como para duas pessoas distintas, sobre-estimando a cobertura, com o sistema em implementação, esse risco é mitigado. O Ministério da Saúde não é capaz de apontar o peso de cada motivo.
O que chama a atenção é que o calendário passou de seis vacinas, nos anos 1990, para quatorze no calendário atual, sendo que grande parte das novidades foram incorporadas nos últimos 10 anos. O gasto com vacina aumentou 44 vezes, passando de R$ 94,5 milhões, em 1995, para R$ 4,2 bilhões, em 2017, 30% a mais que 2015.
Além disso, o conceito de bloqueio populacional ou “imunidade de rebanho” é pouco difundido na população. Vacinas contra poliomielite e sarampo, por exemplo, precisam de uma alta cobertura para interromper a circulação do vírus. Ou seja, a atitude de não vacinar uma pessoa pode prejudicar o próximo. Esse fenômeno está menos claro com vacinas contra HPV ou mesmo gripe sendo que, nestes casos, há grupos prioritários e a proteção é a priori individual ou focada em ambientes como o hospitalar.
Há cerca de 60 vacinas aprovadas para uso humano. É importante que as mensagens sejam claras desde o formulador da política pública até o profissional assistente. As campanhas, em especial focadas nas vacinas que exigem alta cobertura para bloqueio populacional, como contra sarampo e poliomielite, procuram resgatar a informação de que esse tipo de vacina faz parte não apenas de um calendário, mas também de um processo civilizatório. Porém com tantas alternativas de prevenção, desde imunização até exames de rastreamento, ou mesmo recomendações quanto a atividade física e alimentação, e com um crescente investimento da indústria farmacêutica em vacinas, os profissionais de saúde serão cada vez mais desafiados quanto à priorização das ações.